quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O poder de um vestido







O poder que um vestido tem
de elevar-se,
mostrando
as pernas,
joelhos
e coxas
de uma mulher
louca para esconder-se
e mostrar-se esvoaçante.

O poder que um vestido tem
de dar-lhe cor
e rubor
ao sentir-se queimada por olhares
em todos os cantos
da cidade
e do vagão do metrô.

O poder que um vestido tem
de se alinhar à silhueta,
de costurar-se em torno
do corpo,
a pedir que o homem desvende
o que se esconde por baixo do pano.

O poder que o vestido tem
de acompanhar-lhe em rebolados
ora em rendas
ou babados,
caminhando pelos olhos
do louco admirador.

O poder que o vestido tem
de enrolar-se no corpo,
nos corpos de ambos,
enroscando-se em amor,
e sendo rasgado com fervor.

O poder que o vestido tem
de mostrar a mulher
ainda mais bela
do que outra peça de roupa qualquer
é capaz de mostrar.

Que poder carrega a mulher
que bota um vestido
e sai a desfilar,
importando-se em, apenas,
deixar-se admirar.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Dane-se

Cê joga em dois lados,
acha que tudo é jogo de dados,
só para não se dar
a quem mais se dá a você.

Cê canta vitória antes do tempo,
você vibra como se o tiro fosse certeiro,
cê comemora o penar
daquela que te amou
quando ainda tava aprendendo a amar.


Você danou,
Cê vai se danar.

Você machucou,
cê vai se machucar.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Carta de uma criança romântica





Olá, Noel! Tudo bem?

Mais um Natal está chegando, e cá estou eu outra vez, a repetir o pedido que fiz há algum tempo. Acaso se lembra dele?

Tudo bem, eu entendo. São muitas cartas, muitas crianças, muitos pedidos iguais a este. E com certeza ele não é o mais importante de todos, e não deve considerá-lo assim. O senhor tá certo. Mas, se acaso tiver um tempinho e c
ondições de realizá-lo, me deixará muito feliz.

Sabe, Noel, ultimamente tenho andado meio cansada. O presente que você me mandou há uns meses esgotou minhas forças. Não, não estou reclamando dele. Até que me foi bom, mas poderia ter sido melhor... Bem melhor. Por isso mesmo gostaria de pedi-lo novamente, só que com algumas melhorias. Pode ser, jovem?

Bom, vamos lá. O senhor não deve lembrar, mas lhe pedi um pacote de borboletas. Isso mesmo. Borboletas. Para colocar aqui no estômago. Parece estranho, né? Entretanto, ambos sabemos que sempre tem alguma jovem por aí pedindo um pacotinho pro senhor. É que a sensação que elas causam é ótima! Já experimentou?
Pois é, Noel. Gostaria de pedir um pacote de borboletas com asas mais macias. Acho que já deve ter lançado um novo modelo delas. As asas das borboletas do ano passado até que eram confortáveis, mas depois de um tempo começaram a ficar duras, e me causaram úlceras. E sem contar que os bichinhos eram agitados demais! Qualquer olhar, qualquer abraço já era motivo para começar um rebuliço de asas impossível de conter. E toda essa farra dentro do estômago me deixava sem dormir. Foi intenso demais, meu querido. E agora que estão ficando velhas, elas estão confundindo tudo, ora parando de bater suas asas, ora batendo-as por qualquer toque de pele. Por isso gostaria de trocá-las.

As borboletas que lhe peço são um pouquinho mais calmas. Voam tranquilamente pelo espaço disponível aqui dentro. Para voarem, precisam de um estímulo menos discreto e bem mais esperto. Funcionam melhor à base de palavras-chave, que provavelmente derivam de algum convite para sair ou de um buquê de flores. Os abraços funcionam, mas devem ser mais apertados que os anteriores. Sim, elas são um pouco mais exigentes. E as asas são duráveis, endurecendo depois de muito tempo. Às vezes, se batem calma e continuamente pela mesma fonte de estímulo, podem nem endurecer. Veja só como são melhores.

Bom, este é o meu pedido de Natal para este ano. Espero que esteja a seu alcance realizá-lo. Já disse que sei que ele não é tão importante como os outros, mas indiretamente pode fazer um bem enorme à humanidade. Pense nele com carinho, ok? 

Um beijo e Feliz Natal!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Tipo





- Oi.
- Não sou o seu tipo.

- Que?
- É isso, não sou o seu tipo.

- Não tô te entendendo.
- Não entenda, só saiba: não sou o seu tipo.

- Mas por que você está me falando isso?

- Para deixar claro que não sou o seu tipo.

- Tá bom, já deixou. Mas qual o motivo?
- Simplesmente porque não sou o seu tipo.

- Tudo bem. Mas eu não te perguntei nada.
- Mesmo assim afirmo: não sou o seu tipo.

- Tudo bem. Já vi que não dá mesmo pra conversar com você.
- É porque eu não sou o seu tipo.

- Pra quê enfatizar tanto?!
- Pra esconder que eu te quero comigo.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Assim que somos

Lágrimas libertam.
E, agora só me resta,
que essa liberdade vingue,
e me dê asas para voar para longe,
e me dê forças
para que eu use as asas para aquecê-lo
quando precisar.
Dolorido, mas importante.
É assim que és, 
é assim que somos.

Nem mais, nem menos,
apenas eu e você,
carregados de momentos
e sorrisos.
Os mais importantes e alegres,
os mais divertidos e amigos.
Só olhares.
E sorrisos.

Sonhar

Sonhar
e ter alguém para isso,
ter qualquer um 
com quem se possa repousar no paraíso.
Sonhar é o que me move,
me enterra,
para não deixar que
aquele pulso que dói
morra
sem pulsar.

Sonhar,
simplesmente imaginar
que tem algum ser
me esperando em algum lugar.
Sonhar
e não dormir
para poder sorrir
feito bobo no luar.


Sonhar


e não ter a mínima vontade de levantar


da cama ao acordar
Sonhar
para sempre
ter um pouco de amor
para amar.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Coração que dói

Pára de bater, 
coração, 
que eu não aguento mais
tanta dor.

Cada pulsar
é um soluço
e cada pulso 
é um penar.

Nem esbarrar
eu consigo mais,
e encarar
é muito pior.

E o nó
que afrouxou
todo aquele rubor
que me subia
ao vê-lo,
desenlaçou
todo o elo
que concebemos.

Assim,
desfizemos do amor
e em mim
se alojou uma dor
mais pulsante que
você.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Nos meus braços de maré...



Esquece esse amor antigo
que não te deixa chegar ao mar.
Venha para perto de mim
sentir meu abraço 
e meu corpo te arrastar

tal qual maré.
Banhe-se nas águas do meu corpo.
Venha se afundar
nos meus beijos
a desvendar todos os segredos
do fundo do meu olhar.
Navegue até meus lábios
onde num triângulo se afogará.
Afogue-se em desejo
e não me deixe noutros braços
marear.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Casos de um amor perdido - Parte II: A amizade


Nascida em vias de lutas
imediatas pela anistia de corações,
a parceria se fortificou,
crescendo ao subir
em cada pedra-presente no caminho.

Amigos até hoje
acabamos sendo
e em cada olhar
um brilho acendia
a cada desafio dividido,
e a cada pacto de saliva.
Ingênuos,
acreditando-nos imediatos
em realizar proezas,
desvendamos os segredos da natureza
dos gritos revoltosos.

Quando chegou a hora,
o rio esparramou suas águas para fora
dos cílios da mata que chorou.
E em plena mata,
Diagnosticados como apaixonados,
Continuamos seguindo o caminho
Cruzado em seu silêncio
E sinuoso em meu amor.

Casos de um amor perdido - Parte I: O encontro

Pode ser que o começo 
não seja tão difícil quanto o recomeço -
atual estado em que me encontro.

Provavelmente o início
seja a magia do amor,
quando ainda não sabemos
qual caminho seguiremos
rumo ao horizonte
onde nossas mãos se encontrem.

E no começo 
da mudança
nos encontramos
ainda crianças
com sonhos gordos
e repletos de esperança.
Você todo abobado, 
perdido,
nem tinha se encontrado.
Estava tão quieto 
que sua cabeça não interagia
com a quantidade de loucuras
que em sua volta acontecia.
Eu, ainda crente
de que na minha frente
a estrada seria reta,
olhei-o,
um tanto inquieta,
a indagar-me sobre sua quietude.

Assim, 
você temeroso
e eu fascinada
cruzamos os destinos:
o meu, o seu,
o dela, os delas,
sem saber como seguiríamos.
E, em passe de mágica,
caminhávamos
lado a lado,
encontrando-nos
em cada sonho contado.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Um colo para deitar a cabeça




Moça,
ele não te quer,
ele não te ama.
Ele está sossegado
com um colo
ali do lado
pra apoiar a cabeça 
quando quiser.
Ele te tem
e você não o tem.

Ele não é teu,
ele nem sabe o que é ser.
Desencana
que esse jogo tá perdido
pra todo mundo...
Menos pra ele
que tem um colo
ali do lado
pra deitar a cabeça
quando quiser.

Samba curto

Fácil mesmo é fazer um 
samba curto pra você
tão curto quanto o seu amor
e mais alegre do que sou.

O difícil ainda é
te esquecer
brincando de felicidade
sem amor.

E ainda assim
vou seguindo
deixando de lado
sua lembrança
e pagando pra ver
você chorar igual criança
sem doce e sem brinquedo,
ficando a chupar o próprio dedo.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Saudades do Pantanal




Que saudades 
do céu do Pantanal,
onde Vênus ilumina as sombras
ao mostrar o amor naquele quintal.
Onde Martes nos observam
camuflados em aguapés
e onde a correnteza nos arrasta
tal qual maré.
Saudades das revoadas
e cavalarias, 
das quentes madrugadas
e das ararinhas
a cobrirem o céu.
Saudades do calor
a esquentar o coração
antes enregelado por você.
Saudades de não te ver,
saudades de viver
naquele mato,
naquele estado,
longe do seu mal.
Ah, que saudades do Pantanal.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Dom de Errar

Sofro da inquietude dos apaixonados
que aguardam ansiosos
a realização do sonho projetado
sobre o olhar de alguém.

Tenho os tremores
daqueles que explodem
em sistemas solares
recheados de sóis,
esperando jamais ficarem a sós.

Peço por todos os enamorados
cambaleantes e desesperados, 
sedentos da saliva e do calor
das línguas e braços.

Rezo por mim
que deixei me levar
por esse dom de errar
ao gostar de quem não gosta de mim.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Privada



Será que nada vai mudar? 
Parece que, em meio a
toda essa privataria

correndo solta pelo ar,
só a tristeza é coletiva..

Tudo é de um
e o todo nada
é de cada um
que constitui essa massa
abandonada e largada
a Deus-dará.

Nem Deus dá,
ele não pode,
agora é só dos "nobres".
Privatizaram-no.
Vendem-no por centavos,
aluguéis e fiéis
tirando do povo
a fé que antes era gratuita.

Lá fora,
nas paredes atiram ovos,
granadas e tijolos.
Lá fora
tudo está perdido,
ricocheteando e deixando muitos feridos.
Lá fora, aqui dentro
parece que nada toma jeito
e tudo segue a contento
de quem privatizou.

Privatizaram a esperança
e comercializam a desilusão.

TPM




Você é minha TPM. Seu olhar é feito cólica, que me contorce, queima e faz sofrer. E não dá, simplesmente não dá mais. Preciso tomar um Atroveran contra seu olhar. Um Atroveran de sumiço. Preciso perder-me de você, porque perde-lo já não basta. Necessito recuperar meu bom humor, aquele sorriso que você sequestrou. Preciso de alguém que massageie meu ego e me esquente, tal qual bolsa d’água. Alguém com um abraço melhor que o seu... Qualquer abraço de um alguém qualquer. Não deve ser tão difícil de encontrar. E, não, por favor não, nenhum amigo. Já me basta essa novela na qual você ainda se acha meu amigo... Eterno amigo. (Merda! Ainda o considero como tal)

Mas amigos não são TPM... Eles aturam-na. Você é, e nem sei mais se consegue se aturar. Eu não o aturo mais. Embora eu tenha vontade de estar junto a você, não posso. É insuportável... Intolerável! Mesmo necessitando de sua presença para saber-me fértil, sua ausência é necessária.

TPM = Tristeza Por aMar. Triste por você que não sabe o que tá perdendo... E que sabe muito menos o que tá ganhando.  Eu sou mais eu, então por que preciso de você para me sentir viva? Para sorrir? Para ser? Não, não preciso!... Preciso, mas nego. E quando não dá mais para negar, explodo. EXPLOSÃO. Entro em  TPM, pronta para sangrar logo depois. Sangrar em lágrimas e mágoas.

Maldita dor que você é.

domingo, 28 de outubro de 2012

Entreolhares

Cruzamento demarcado,
ponto de encontro de pecado
para olhar e se perder.
Ligação.
Como um raio
a cegar
e um poeta
a se enraizar
nos olhos da musa.
Ardor.
Queima enquanto não desvia;
implora para não desviar.
Sensação.
Deixa de lado a solidão
para perder o chão
no desejo de amar.
Olhar.

Um amor para o fim do mundo




Em tsunamis a arrebentarem
contra a parede que construí
para impedir que tua maré

me invada e me arraste.

Gafanhotos a voarem
destruindo o que resta
de minha plantação
de tulipas e hortênsias,
Margaridas e rosas
prontas para serem colhidas
e formarem meu buquê.

Fome de sal.
Do sal.
Do teu sal.

Em rota de colisão,
pegando fogo,
explodindo por dentro
uma bola incandescente
a queimar de amor.

Um ardor maior que o calor do sol,
tão quente quanto a pele
de teu rosto
a enrubescer-se de timidez.

Congelante qual teu olhar
amadeirado
em mogno...
E cobre.

Que catástrofe és.

E pensar que,
apesar de tudo,
é contigo que
quero passar
o fim do mundo.

domingo, 21 de outubro de 2012

Somos

Somos o casal perfeito
e de tão perfeito
despistamo-nos,
fugindo do sonho de nos tornarmos
únicos.


Somos aquele casal de contos,
cheios de tantas histórias
de encantos e desencontros
capazes de detestarmo-nos
a cada beijo
e de amarmo-nos
a cada batalha de olhares.

Somos o sonho
da moça romântica
e o pesadelo
do rapaz vítima
do desencanto.
Somos o encontro,
o manto,
o doce canto
da sereia dos mares
e tempestades
advindas de nossos copos d'água.

Somos a verdade
a negarmo-nos
em sonetos e piscadas.
Somos o prazer
em não pertencermo-nos,
mesmo criando a cada dia
um desafio para nos vermos.
Somos cão e gato
a amarem-se,
a morderem-se,
a unharem-se.

Somos o pecado
dos que se entregam
ao prazer de amar.
Somos o desejo
dos que se entregam
ao prazer de se apaixonar.
Somos você e eu.

sábado, 20 de outubro de 2012

Insano caminhar

Contra a correnteza
que provinha de seu rio imaculado
a correr pela face
e despencar da cachoeira de seu rosto
ele caminhava tristonho

a seguir só e sólido
insano pela cor
daqueles olhos que o abandonaram.
A caminhar,
ria um choro de horror
a sentir imensa dor
de ver-se inútil para aquele coração.
Aquela bomba que pulsava
mais forte pela ansiedade de esperar
outro corpo ao seu lado,
outro alguém em seu laço.
Pagã que era
não percebia que seu amor era sagrado,
tão imaculado,
capaz de carregá-la para longe
de toda mágoa.
Lenço a enxugar suas lágrimas.
A pesar em suas pernas,
seu corpo sólido
pesado em penas e problemas,
tombava sobre a calçada
buscando na sarjeta
qualquer calor que remetesse
àquela companheira calada.
Avante, sem destino, sem desejo, sem abrigo
desalojado daquele colo infame
e embriagante
onde depositava sua cabeça
a esperar por um toque qualquer.

Infernal sensação

Eu, que tinha tudo para estar em paz, 
apaixonei-me pelo inferno.
Embriagada em lava,
queimei meu peito 
ao provar da bebida cruel
que brotava de suas glândulas.
Como um fogo a queimar
a espinha dorsal 
do meu desejo,
seu beijo esparramou-se
sobre meu corpo réu,
em mel e céu
a arder em labaredas de paixão.

Infernal sensação.

domingo, 14 de outubro de 2012

Tão perto


Quando lhe perguntaram onde estaria
Respondera que bem longe,
Distante de toda maldade
Dos abraços,
Dos braços,
Dos laços.
Fuga risonha, disfarçada em conexão
Com o vício
Que fazia esquecer e reviver aquela paixão.
Logo atrás, escondida
Sumida entre as pessoas e as paredes
Entre catuabas e seres
Tão fugitivos e aprisionados quanto ela.
Enquanto eles bebiam para esquecer,
Ela mantinha-se sóbria para lembrar...
E escrever.
A voz dele ecoando
Pelas paredes e sua mente,
Martelando no peito cansado e sofrido
Por tamanho amor.
Escrevia, lia,
reescrevia e relia,
Cegando-se em sono, suor e poesia. 

Resistência

Embora não parecesse,
Sua força era tão intensa 
Que, mesmo quebrando-se feito vidro,
Não era varrida pela tempestade.
Tão frágil e dura intensidade

Que cedia às quedas dos cílios
Paralisada tal qual estátua
Fria e pálida frente a sua passagem.
Sonhos desfeitos em pesadelos de algazarra
Lágrimas roladas em velocidade de enxurrada
Congeladas e resistentes ao frio
Do toque desinteressado
De alguém desapaixonado
Cansado de não se amar.

domingo, 7 de outubro de 2012

Enfim

Cresci.
Deixei um amor antigo 
E segui
Sem olhar para trás
Sem rancor
Parti
Aprendendo a viver
Nos altos e baixos do mar

Sofri
Olhando as estrelas
E contando-as no teu olhar
Sorri
E em teus ombros
A me acariciar
Dormi.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Contra-partida

Eu deveria arrumar as malas,
ir embora;
mudar de vida,
mudar de história.

Deixar para trás
cada pedaço de mar revolto,
todo desprazer da saudade,
todo caminho torto que tomei
para escapar dessa chantagem.


Mas não consigo,
não prossigo
nessa caminhada desajeitada
sem luar, sem sacada,
sem pernas pra chegada.

O peso de separar-me
das coisas queridas,
das lembranças perdidas
impede-me de prosseguir,
seguir em viagem
rumo ao horizonte sem sua imagem.

Sua imagem impede,
persegue,
desmerece
todo o esforço de pensar,
toda a angústia de sofrer,
toda a vontade de rir,
toda a dor
que seu bem-estar me custou.

Seu sorriso atormenta,
sua intelectualidade não tenta
e seu olhar frequenta
essa mente vazia de adornos,
desenfeitada em sonhos
de te querer, amor.

Vulgariza a preciosidade
do momento de saída,
da porta fechada em saudade
de quem se foi para
adiante
tentar a vida
rastejante.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

At(or)

Em experimentação
uma encenação qualquer
de tentar desfazer
um mal-entendido
divertido.
Uma ação de caráter duvidoso,
um amor tendencioso
para suprir a falta que você faz.
Qualquer ato maníaco
como atentado ao pudor,

ao pudor de te querer
e de tentar esconder
essa loucura que
os loucos chamam de amor.
Loucos por gostarem de sentir
um medo, um horror
De deixar de sentir
aquele frio abrasador.
Malucos por ti,
torcedores por mim
no discurso da oratória,
pondo à prova e
dando a mão à palmatória
porque esse sentimento
deixou de ser história
e passou a ser...
amor.

Cadum

Respeite a farda,
submeta-se a arma;
sua alma já está fadada
à ignorância.
Morta está a criança;
agora somos todos homens,
todas mulheres;
perdemos toda a liberdade,
perdemos a infância.
Presos estamos,

na intolerância que criamos.
Perdidos somos,
cansados estamos;
sem forças, paramos.

Não andamos, não choramos;
nossos próprios direitos não respeitamos.
Cada um pertence a si,
cada um reforma o "todos".

domingo, 23 de setembro de 2012

Apaga-a-dor


Seu nome tá marcado,
tá virado,
tá de cabeça pra baixo,
tá escrito ao contrário,
tá tatuado.

Tô tentando,
jurando apagá-lo.
Não tá dando,
tá queimando,
tá ardendo
nesse peito machucado.

Prometo,
prometo que tento,
prometo que apago,
Tento apagar,
tento rasgar
essa dor que brota em
briga de cão e gato.

Tô apagando,
você não tá ajudando,
tô tentando,
mas você nem tá se esforçando.

Tô apagando
com lágrimas e promessas.
Tô rezando
ajoelhado nos altares,
rezando todas as rezas.
De simpatias e quebrantos,
tô apagando,
estou te apagando,
estou te esquecendo,
estou te matando...

Amador

Essa mania de amador
que fala que entende das coisas,
da vida, do amor.
Essa história de se garantir,
de brincar, de falar 
pra se divertir.
É um conto para aumentar pontos.
Quer figurar entre outros tantos...

Tantos tontos.
Finge que não ama,
fala com seriedade,
age sem drama,
só para não mostrar a verdade.

Tá apaixonado esse aí.
Olhar sério,
sorriso fechado
quando ela passa
de saia rodada
fazendo pirraça
deixando-o sem dormir.

Pra disfarçar, faz piada.
Para sorrir, faz graça;
Para dormir... Ah, não tem dormir.
O sono vai embora
quando ela passa.
A macheza vai embora
quando ela passa.
Quando ela passa,
leva seu coração embora,
e a sua cabeça roda.

Essa guerra já perdeu,
tentou e lutou,
mas na praia já morreu.
Está apaixonado
esse ama-dor.

sábado, 22 de setembro de 2012

Contrariedade

Para ela
sua presença era insubstituível
e seu beijo, imperdível.
Provavelmente, o ar não lhe era tão necessário
uma vez que o perdia a cada encontro.
Cega, surda e muda,
ficava a cada visão,
som e pergunta.
Obedecia-lhe o ritmo,
dançava seu passo,
cantava para ser ouvida por ele
somente.
Para ele,
sua voz era inaudível
e sua dança, incompatível.
Ela não lhe era tão necessária,
já que só não se sentia sozinho.
Infeliz, sonolento e desanimado
ficava a cada encontro,
ligação e mensagem.
Não respondia suas perguntas,
perdia o ritmo,
tampava os ouvidos a sua música
ausente.
Ela corria, ele fugia.
Ele desligava, ela tentava.
Ele era o não e ela o por favor.
Um Yin-Yang sem sentido e complemento.
Eram uma verdade
que a iludia e bastava;
uma mentira
que ele detestava, mas mantinha.

Samba de vontade

A saudade é um bocado de tristeza
que faz bem e mal também,
mas é da nossa natureza
sentir falta de alguém.

E esse alguém
também sente
uma falta de carinho,
uma falta de ter gente
ali dentro do seu ninho.


Já está cansado de ser sozinho,
já está a procura de abrigo
um abraço, um beijinho
e não só um ombro amigo,
mas um aperto de amor.

E de amor e verso-amor
ele vai seguindo com a dor
cansado de ser sozinho
à procura de carinho
e de alguém que também procure
por um pouco de paixão,
um pouco de saudade,
um pouco de felicidade,
um cadinho de amor.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

‎"Eva viu a uva."


Ela viu, nunca comeu,
seu sabor nunca sentiu,
mas ela viu.
Estava posta sobre a banca

longe do alcance de suas mãos,
próxima o suficiente de seu olhar.
Saboreava-a.

A uva ali parada
fôra colhida e posta à venda.
Desejava ser alimento,
seu bom gosto era destinado a isso.
Não percebia a admiração
brilhando de fome nos olhos de Eva,
mas desejava lhe pertencer.

Desejo mútuo,
desejo contido.

Eva controlava-se para
não tomá-la para si.
Continha-se. Massacrava-se.
Salivava.

Ela e a uva ali.
Ambas proibidas de se pertencerem.

Boticário


"Não deveria escrever por você. Não deveria nem ao menos sofrer, imagine então escrever. Mas é o modo que encontro de, sei lá porque, divagar sobre querer ou não você."  

Acho que não.
Acho que não quero.
Acho que não merece.
Acho que não sustento.
Não quero esquecer,
não quero deixar,
não quero deixar
pois não me sustento
por gostar tanto assim de você.
Dane-se.
É assim que é:
no fundo eu acho,
aqui dentro eu quero,
minha mãe acha que mereço,
mas ninguém aposta que eu aguento.
Eu acho que vai
durar o suficiente para logo acabar
e que vai acabar quando
o que durou não mais sustentar.
Querer eu quero,
sempre quis, assim como você,
assim como qualquer um
ser um pouco, talvez um muito
feliz.
Minha mãe te acha o máximo
modéstia a parte, culpa de minha propaganda.
Falei que você era remédio;
se falasse que era droga,
teria que entrar em tratamento.
Isso é vício,
ninguém aposta por isso.
É arriscado,
e gostar assim
já não é tolerado,
nem para você
nem para mim.
Deixe.
Deixe passar.
Mas ajude,
ajude a curar.
Afinal você é o remédio, lembra?
O problema é que
tomei-o em altas doses,
viciei
e agora você é contra-indicado.
Faz-me mal.
Mas, lá no fundo,
me faz um bem danado.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Redescobrindo


“Eu tô tão feliz que chega a doer”. É com essa frase que começo este texto.
Há quem diga que somente as tristezas e desilusões que carregamos no peito chegam a doer. Não penso, muito menos sinto que isso seja verdade. Eu estou sim com dores de felicidade.
Não consigo explicar o porquê dessas dores que sentimos ao estarmos felizes. Tenho a leve impressão que são decorrentes da saudade que fica dos momentos-sorrisos, daqueles breves instantes nos quais o tempo simplesmente pára e tudo o que passa a existir no mundo são bocas e olhos iluminados. Mas... É só uma impressão. O sentimento e a dor pertencem a cada um.


As minhas são do tipo que mencionei acima. E são também daquele tipo de dor de quem é pressionada contra a grade durante 5 horas de show. Aperto, suor, postura incorreta, tudo o que parece extremamente desconfortável. O corpo sofre. Enquanto isso o coração pula, bate, estremece, comemora e se abre ao som de uma voz que, sabe-se lá como, toca-o há 9 anos. Impossível narrar como e o que é essa odisseia de emoções.
Tive a honra de estar presente na maior homenagem já feita à maior cantora do Brasil. Sim, a maior homenagem já feita. Quando digo “a maior” claramente me refiro ao amor que conduziu aquelas vozes presentes no Credicard Hall, em São Paulo. O amor dos fãs da mãe e dos fãs da filha; acima de tudo, o amor da filha. Maria Rita soube o tempo certo para mostrar que suas semelhanças com Elis não são unicamente genéticas; são morais. O respeito com o público, o carinho ao falar da mãe que tão cedo partiu deste planeta, o sorriso e a alegria ao ver que realizou muito bem o dever de levar Elis às novas gerações e de resgatá-la na memória do público mais velho. Maria tomou para si a tarefa de ajudar o Brasil a redescobrir Elis. Tarefa que parecia difícil, ainda mais no chamado “país sem memória”. No entanto, essa tarefa não começou com o primeiro show do projeto “Viva Elis”, em Porto Alegre. Começou quando Maria Rita surgiu no cenário musical, premiada com um Grammy antes mesmo de lançar seu primeiro cd. Muitas pessoas redescobriram Elis ao descobrirem Maria Rita, quando quiseram saber quem era aquela jovem cantora que surgia com suas singularidades e semelhanças.
Não podemos dizer que a missão de Maria Rita é levar Elis ao público mais jovem. Isso é uma missão nossa, de todos nós que valorizamos a cultura brasileira. A missão de Maria é simplesmente e grandiosamente cantar e encantar. Missão muito bem cumprida ora cantando Elis, ora cantando Maria. Só podemos agradecer-lhe por permitir-nos compartilhar um pouco das suas lágrimas, saudades e lembranças. Por presentear-nos com a homenagem realizada e por nos deixar tão felizes com algumas notas, letras e sorrisos. Por nos deixar com aquela dorzinha de felicidade e saudade daquelas quase 4 horas tão breves de música boa.  E, acima de tudo, por dividir conosco a lembrança da sempre viva, presente e marcante Elis Regina.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Respira fundo...

Respira fundo, vai. Desencanta o encantamento e chora o que precisar.
Respira fundo, vai. Sofra até não poder mais; deixa a dor rasgar. Parece que rasgando ela fica mais presente, e quanto mais presente, mais intensa. E quanto mais intensa, mais apaixonada é.
Respira fundo e vai. Caminha mesmo sem saber para onde ir. Deixa-se levar, rasgando e flutuando, como a folha carregada de histórias rabiscadas segue na tempestade.
Vai, respira fundo. Puxa para dentro de si todo o ar que te faz viver; expira toda aquela mágoa que sufoca e aperta dentro do peito.
Respira fundo. E tenta esquecer. Já que não tem mais jeito, tenta esquecer.
Vai...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Para ela
Não bastava apenas aquilo
Não bastava viver intensamente sem conhecer-se, sem conhecê-lo.

Era preciso mais
E para ele o mais dela era imperceptível.
E isso muito era devido a uma alma insensível
Que em seus sonhos pisara sem amor.

Mal sabia ela a dor que afligira aquele peito
Mal conhecia os sonhos desfeitos
E por tal ignorância, insistia em apertar-lhe mesmo sem sentir o antigo ardor.

Pecava por ingenuidade,
Amava uma paixão infantil na qual não se via não amada.
Mas quando a frieza do olhar enregelava seu coração,
Sentia-se sem tango, sem fulgor, sem ação.
E por tal arrepio que sentia ao tocar aquele homem gélido
Insistia em esquentá-lo com beijos cujo calor perdeu-se em polar.

Sabia que era impossível achar o amor que não perdera,
Ainda mais agora que descobria que nunca tivera lhe pertencido.
Mas os bons momentos existiram, relembrando e aflorando em seu peito a esperança
Aquela mesma espera na qual se baseou para corresponder ao sorriso
Que julgara ter sido dirigido só para ela.
Ah se antes soubesse que simpatia
Era sua característica particular,
Não tinha se deixado levar por aquela intensa vontade de amar.

domingo, 6 de maio de 2012

Num parque, com toda a juventude...


Está difícil começar este texto, ainda mais quando uma confusão de sentimentos fazem suas mãos tremerem ao tentar transcrever o que significou o dia 5 de maio de 2012. Até inventarem uma máquina do tempo, sei que não poderei reviver este dia, mas nada me impedirá de relembrá-lo sempre.
São Paulo é a cidade dos meus sonhos, talvez por ter vivido momentos maravilhosos aqui. Apesar de tudo que falam da cidade, vi em SP coisas maravilhosas acontecerem: vi uma mulher comprando comida para dar a um cachorro e a um morador de rua; vi a cultura brasileira ser valorizada por pessoas de todas as idades; vi um céu azul espetacular, resistindo contra toda a poeira que saía dos escapamentos. E ontem vi o que acredito ser a maior e a mais difícil homenagem que uma filha poderia fazer para uma mãe, mesmo sem ter convivido muito com esta. Vi, também, uma das maiores homenagens que um profissional poderia fazer a outro. Ontem vi e sobrevivi a Maria Rita cantando Elis, de uma maneira que só ela teria autoridade para fazer.
Qualquer palavra é pouca para dizer o que foi aquele momento. Com mais de 120 mil pessoas no Parque da Juventude, o momento foi diferente para cada uma delas, a emoção talvez tenha sido parecida. De qualquer maneira, foi estrondoso o respeito que se teve com a filha, com a mãe e com toda aquela energia que circulava e limpava o local onde ocorrera um dos maiores massacres da história. As canções de luta retrataram bem o chão no qual pisávamos e ninguém se calou sobre os corpos que ali se deitaram há alguns anos. As mãos se levantaram e, juntamente com os olhos vidrados da cantora, dirigidos e fixados a um ponto qualquer, todos se concentraram na letra que clamava por justiça.
Ao entrar no palco, percebeu-se que a filha e a cantora estavam emocionadíssimas. Uma, sentindo a leveza pesada da grandiosidade da mãe. A outra sentia a energia daquele público gigantesco que a aplaudia e vibrava com a força e coragem que demonstrava. De qualquer modo, não foi fácil para ninguém. Nem para Maria, nem para o público. Particularmente, para mim foi ainda mais difícil, não sei ao certo o porquê. Canções que eu já entendia, que já me sensibilizaram alguma outra vez, trouxeram à tona todos os sentimentos que eu desejava exprimir e não conseguia. Especialmente “Se eu quiser falar com Deus” e “Romaria”, que me ajudaram a restabelecer um contato que eu estava perdendo com o divino. Enfim, foi um espetáculo no qual se juntaram os sentimentos mais necessários ao indivíduo humano: dedicação, amor, paixão, justiça, fé, esperança e alegria.
Após ”O Bêbado e a Equilibrista”, quando falava da grande mulher que fôra Elis Regina, Maria Rita acertou em cheio. Aliás, seria difícil não acertar. De fato, Elis “não foi só um rostinho bonito e uma voz afinada”, foi uma guerreira. E foi isso o que eu disse e que MR repetiu, me deixando radiante, não nego. Pena que não falei guerreiraS, com um “S” bem grande no final, porque Elis e Maria são. Elis demonstrou sua força em um tempo de torturas físicas, psicológicas, perseguições. Maria demonstrou sua força num tempo muito parecido com o passado, disfarçado de “democrático”, mas com perseguições mascaradas tão duras quanto as outras.
Realmente foi um espetáculo muito além de especial que pude dividir com pessoas especiais para mim. Foi algo necessário, extremamente necessário para a música não só brasileira, e sim mundial; para Elis, para os filhos, para o público, fãs e para mim. Acreditem: ainda existe muito amor em São Paulo.