quinta-feira, 10 de março de 2011

Cor-de-mel

Profundos,
imensos e pequenos.
1 segundo.
Novamente,
profundos,
imensos e pequenos.
Afogo-me na profundeza 
das pupilas,
enredo-me, transitivamente,
na doce íris.
Perco-me.
Como o urso,
enfrento o enxame de pensamentos
e procuro pelo doce daqueles olhos.
Uma overdose daquela glicose
que meus olhos saborearam
fez-me perder o controle
dos movimentos,
das palavras,
dos pensamentos.
Um piscar.
Nem sei se respirava.
Ofegante, retomo o controle,
emirjo daquela profundeza,
me liberto das redes
daqueles olhos cor-de-mel.

Para alguém que, de alguma maneira, mudou minha vida.

Seus amendoados olhos
tinham um quê de tristeza.
Fecham-se num sorriso
ressaltando ainda mais 
sua singela beleza.


Os gestos que encantaram muitos
foram zombados por outros tantos
que os julgaram cópias maternas.
Até mesmo o doce sorriso
fôra vítima da inconfessa Inquisição
que por anos atingiu-a,
forçando-a a esconder tão linda vocação.


A voz tão suave
sai tão leve e pura
que chega aos ouvidos
ainda primitiva.
Talvez os corais da juventude
foram-lhe úteis para o treino,
mas neles não se encaixava 
tamanho destaque;
havia algo a mais,
algo que até hoje
é inexplicável,
algo extremamente admirável,
algo nada comparável.


As semelhanças existiam,
porém foram esquecidas logo
nas primeiras notas.
O talento,
que também viera do sangue,
mostra-se no iluminar de sua aura
quando nos palcos 
leva seu cantar.


Hoje seus olhos
não me parecem mais tristes.
Acredito que agora
perceba o porquê
desse dom de encantar.
Muitas vezes esse dom cai
sobre sua pessoa
como uma responsabilidade,
no entanto, esta se extingue
e dá lugar a sensibilidade.


Aquele olhar que outrora
tive a chance de admirar
continua tão amendoado, 
doce e belo
que dá uma vontade de cuidar.
Continue, cantora,
continue suas passadas
que onde sua voz estiver
os ouvidos se abrirão para lhe escutar,
as palmas continuarão sonoras
e os olhos continuarão a te admirar.