19 de janeiro: um dia histórico.
Pessoalmente, não sou o tipo de pessoa que dorme em dias históricos, ainda mais quando esses dias significam muito para mim. Se eu dei sorte, dormi esta noite umas 3 horas, o que é completamente fora do meu padrão de sono de férias. E, agora cá estou em frente ao pc para escrever um pouco sobre um mito, uma história, uma mulher nada convencional.
Mas o que posso eu dizer sobre Elis Regina? Que direito tenho? Não sei responder e nem me preocupo em lhe responder estas questões. Sei que a voz mais potente do Brasil acompanha-me desde os meus primeiros dias no útero de minha mãe. Sei que eu não seria nem de perto a pessoa que sou hoje se não tivesse escutado aquela voz e posso afirmar que a música brasileira, em geral, teria muitas páginas a menos nas partituras do seu concerto se Elis não tivesse existido.
Elis, a menina tímida no comportamento era dona de uma potência vocal sem vergonha de ser potente. E a timidez não era páreo para a imensidão de alma que morava dentro daquele corpo de 1,53 m de altura. Era só abrir a boca e pronto: os ouvidos se inclinavam para escutá-la e toda aquela força, aquela vida, aquela intensidade sem medidas eram liberadas e doadas para o público.
Em minha vida, sempre soube que somente os bobos não mudam de opinião. As mudanças fazem parte da vida e nosso aprendizado para qualquer assunto, principalmente para enfrentar o mundo lá fora da janela, depende de nossas mudanças. E Elis não era boba. Por isso mudava tanto, era tão inconstante. Era muita vida que circulava dentro dela, e essa circulação não poderia parar. A renovação tinha que ocorrer sempre e a charmosa estrábica sabia disso.
Agora, imaginem a dificuldade de todos para entender que a Pimenta era ardida só quando queria. Nós, todos nós, que estamos acostumados a ficar estancados em algum momento da vida, vendo esta passar e morrendo de medo da renovação, não conseguiremos jamais entender o que fazia o coração de Elis bater. É complexo e intenso demais para nós. Ninguém, nem mesmo a Elis saberia dizer. Dessa forma, como poderíamos afirmar qualquer coisa sobre a cantora ou a mulher, a não ser que seu talento é inigualável e único, totalmente único na música brasileira e, quiçá, na música internacional?
O que sabemos (e o que não sabemos) de Elis é tudo o que ouvimos das pessoas que conviveram com ela e são histórias de pessoas que participaram de uma parte da história dela. Nunca saberemos tudo que marcou a alma de Elis, mas saberemos tudo que Elis deixou marcado em nossos corações. Apesar de eu sempre valorizar muito as letras das canções para considerar a emoção que irei sentir e tal, aprendi com a maior cantora do Brasil que a interpretação também é capaz de deixar marcas, capaz de me fazer entender o que a música passa além do que meus ouvidos sentem. Elis é uma espécie de sinestesia. Só de ouvi-la, você consegue vê-la, e só de vê-la, seus “olhos ouvem-na”. Elis é basicamente isso: esse tudo inexplicável. Uma história que mudou a minha vida e que, com certeza, mudou a sua, mesmo que você não saiba.