domingo, 28 de outubro de 2012

Entreolhares

Cruzamento demarcado,
ponto de encontro de pecado
para olhar e se perder.
Ligação.
Como um raio
a cegar
e um poeta
a se enraizar
nos olhos da musa.
Ardor.
Queima enquanto não desvia;
implora para não desviar.
Sensação.
Deixa de lado a solidão
para perder o chão
no desejo de amar.
Olhar.

Um amor para o fim do mundo




Em tsunamis a arrebentarem
contra a parede que construí
para impedir que tua maré

me invada e me arraste.

Gafanhotos a voarem
destruindo o que resta
de minha plantação
de tulipas e hortênsias,
Margaridas e rosas
prontas para serem colhidas
e formarem meu buquê.

Fome de sal.
Do sal.
Do teu sal.

Em rota de colisão,
pegando fogo,
explodindo por dentro
uma bola incandescente
a queimar de amor.

Um ardor maior que o calor do sol,
tão quente quanto a pele
de teu rosto
a enrubescer-se de timidez.

Congelante qual teu olhar
amadeirado
em mogno...
E cobre.

Que catástrofe és.

E pensar que,
apesar de tudo,
é contigo que
quero passar
o fim do mundo.

domingo, 21 de outubro de 2012

Somos

Somos o casal perfeito
e de tão perfeito
despistamo-nos,
fugindo do sonho de nos tornarmos
únicos.


Somos aquele casal de contos,
cheios de tantas histórias
de encantos e desencontros
capazes de detestarmo-nos
a cada beijo
e de amarmo-nos
a cada batalha de olhares.

Somos o sonho
da moça romântica
e o pesadelo
do rapaz vítima
do desencanto.
Somos o encontro,
o manto,
o doce canto
da sereia dos mares
e tempestades
advindas de nossos copos d'água.

Somos a verdade
a negarmo-nos
em sonetos e piscadas.
Somos o prazer
em não pertencermo-nos,
mesmo criando a cada dia
um desafio para nos vermos.
Somos cão e gato
a amarem-se,
a morderem-se,
a unharem-se.

Somos o pecado
dos que se entregam
ao prazer de amar.
Somos o desejo
dos que se entregam
ao prazer de se apaixonar.
Somos você e eu.

sábado, 20 de outubro de 2012

Insano caminhar

Contra a correnteza
que provinha de seu rio imaculado
a correr pela face
e despencar da cachoeira de seu rosto
ele caminhava tristonho

a seguir só e sólido
insano pela cor
daqueles olhos que o abandonaram.
A caminhar,
ria um choro de horror
a sentir imensa dor
de ver-se inútil para aquele coração.
Aquela bomba que pulsava
mais forte pela ansiedade de esperar
outro corpo ao seu lado,
outro alguém em seu laço.
Pagã que era
não percebia que seu amor era sagrado,
tão imaculado,
capaz de carregá-la para longe
de toda mágoa.
Lenço a enxugar suas lágrimas.
A pesar em suas pernas,
seu corpo sólido
pesado em penas e problemas,
tombava sobre a calçada
buscando na sarjeta
qualquer calor que remetesse
àquela companheira calada.
Avante, sem destino, sem desejo, sem abrigo
desalojado daquele colo infame
e embriagante
onde depositava sua cabeça
a esperar por um toque qualquer.

Infernal sensação

Eu, que tinha tudo para estar em paz, 
apaixonei-me pelo inferno.
Embriagada em lava,
queimei meu peito 
ao provar da bebida cruel
que brotava de suas glândulas.
Como um fogo a queimar
a espinha dorsal 
do meu desejo,
seu beijo esparramou-se
sobre meu corpo réu,
em mel e céu
a arder em labaredas de paixão.

Infernal sensação.

domingo, 14 de outubro de 2012

Tão perto


Quando lhe perguntaram onde estaria
Respondera que bem longe,
Distante de toda maldade
Dos abraços,
Dos braços,
Dos laços.
Fuga risonha, disfarçada em conexão
Com o vício
Que fazia esquecer e reviver aquela paixão.
Logo atrás, escondida
Sumida entre as pessoas e as paredes
Entre catuabas e seres
Tão fugitivos e aprisionados quanto ela.
Enquanto eles bebiam para esquecer,
Ela mantinha-se sóbria para lembrar...
E escrever.
A voz dele ecoando
Pelas paredes e sua mente,
Martelando no peito cansado e sofrido
Por tamanho amor.
Escrevia, lia,
reescrevia e relia,
Cegando-se em sono, suor e poesia. 

Resistência

Embora não parecesse,
Sua força era tão intensa 
Que, mesmo quebrando-se feito vidro,
Não era varrida pela tempestade.
Tão frágil e dura intensidade

Que cedia às quedas dos cílios
Paralisada tal qual estátua
Fria e pálida frente a sua passagem.
Sonhos desfeitos em pesadelos de algazarra
Lágrimas roladas em velocidade de enxurrada
Congeladas e resistentes ao frio
Do toque desinteressado
De alguém desapaixonado
Cansado de não se amar.

domingo, 7 de outubro de 2012

Enfim

Cresci.
Deixei um amor antigo 
E segui
Sem olhar para trás
Sem rancor
Parti
Aprendendo a viver
Nos altos e baixos do mar

Sofri
Olhando as estrelas
E contando-as no teu olhar
Sorri
E em teus ombros
A me acariciar
Dormi.