terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Como amar menos




Primeiro, engula-se:
tudo que for seu,
palavras, ações,
tesões,
aprisione dentro de si.
Feche-se.

Tranque qualquer porta,
vede qualquer fresta
pela qual um olhar qualquer possa entrar.
E deixe crescerem arestas.
Assim,
elas rasgam aos poucos
relembrando cada sufoco
daquele muito amar.

Segundo:
sorria.
Sorria para todos
um sorriso sonso
mas não tão morto
quanto quem está por trás.
Bom hálito é essencial.

Terceiro
e não menos especial:
engane-se.
Minta para si
dizendo que não há nada de errado
em não mais amar
por ter amado demais.
Afirme-se,
negando-se o direito de viver.
Desfaleça
antes de cada beijo,
cheiro,
desejo
que insista em fazê-lo amar.

Esqueça de si,
posto que, se não pode mais mais amar,
não se pode mais viver.

Sobre gostar

Semelhante a lambuzar-se
ao olhar para o objeto de desejo,
como se fosse sorvete,
devorando-o aos poucos
e tomando cuidado para não perder uma gota.
Mas não refresca...
Ferve.

Arde qualquer coisa no peito
e o coração bate acelerado
quando sente a energia da coisa.
O desejo é visível aos olhos
e tremular das mãos.

Um ser dominador
invade o ser
e você não se reconhece.
Algo como uma branda possessão
toma-lhe o ser
e você quer,
deseja,
grita
como uma criança mimada
escondida em uma branda face
que não entrega a loucura
que se passa
quando a luz invade a pupila.

E o controle?
Ah, o mundo todo crê
que você está controlada,
e ninguém,
a não ser você mesma,
percebe o quanto está mudada.

Ninguém sabe,
mas você gosta.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Amar: verbo insaciável indiscreto

Amar é sentir-se no outro
e sentir cada olhar
como um passo rumo ao paraíso
de canções e aflições
presas num rebuliço
chamado coração.

Inspira cor,
expira dor
a cada passo
que se dá
em busca de qualquer imagem
abraço
e saudade
que se possa registrar.

É sofrer calado
mas não calado o suficiente,
a ponto de mostrar-se
insatisfeito,
infelizmente,
com a ausência do amado.

É dar-se demais,
recebê-lo de menos,
pois o amor é insaciável.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sobre a sutileza de ser

Seja,
Respire esse ar
Que está disponível 
E invisível por aí.
Respire-me.
Esteja,
Ponha seus pés
Nas nuvens e caminhe
Na delicada aura que brota do ser.
Resida,
Morra em si e só para si
Assim como tendo a morrer por você.
Descanse,
Pouse seus braços em estofados e coxas
E embale-se em mim.
Seja
Essa coisa boba assim,
Esbelta assim,
Somente assim
Qualquer coisa
Só para mim.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Outros trapos




E nessa mania de me esbarrar
Em cada olhar que posso ver
E rabiscar o seu olhar
Pra admirar o que você me parecer.
E nessa angústia de cantar
Em plena Augusta
A procurar por qualquer um
Que lembre você.
E a me enrolar
Em meus lençóis
Que antes só cobria a nós
Fervorosos a amanhecer.
E sentir
Qualquer coisa assim
Semelhante a um arrepio
Que só o seu era capaz de me fazer tremer.
E chorar
Pleno sal e sol
A irradiar
Apagando nossas vãs lembranças.
E escrever
Qualquer coisa que vá até você
Que não irá entender
Pois ainda é tolo.
E consolar-me
Em outros braços
Outros trapos
Que não sejam os seus.