sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Libertos

Sumindo tornou-se presente,
Fugindo fez-se presa.
Ao correr de quem seguia
Sozinha não se encontrou.

A solidão conversava com ela
Amigas de temor e razão
Conviveram, apoiaram-se
E enredaram-se em miséria.

Ele, enquanto só e trocado pela solidão
Vagava avante, sem direção.
Rumava viajante, sem porto, sem embarcação
Aportando em vários corações.
No entanto, não ancorava,
Somente aportava e logo afundava
Em cima de qualquer balcão.

Ela nadava no copo
E com a solidão brindava a desvairada fuga.
No peito sentia um vazio
E por beijos desconhecidos
Partia em busca.
O alento não vinha da saliva,
Não vinha da bebida
E a solidão passou a deixa-la sozinha.

Perturbado, ele se perguntava
No que havia errado
E a resposta não se ouvia.
Em cada encontro
Os ouvidos alheios se transformavam
Em poços dos desejos
nunca realizados.

E sem saber,
Buscavam-se no ato de beber,
Comemoravam a derrota em comum
Em lugares diferentes,
Em semelhantes doses.
Após a incessante busca
Veio o inevitável encontro.
Olho por olho,
Dente por dente,
Copo por copo,
Mente por mente.
O olhar era profundo
O silêncio era mudo,
O copo estava cheio
E a mente estava exausta.

Ali estavam,
Ela foragida dele,
Ele alforriado dela,
Ambos acorrentados
E perdidos na liberdade que ela havia planejado.

Não sabiam que atitude tomar,
Logo pediram a dose para brindar.
E ali, sentados a se olhar,
Beberam até o sol raiar.

O dia surgiu,
Ela levantou-se e saiu
E ele sorriu:
O sentimento, o qual não sabia seu nome,
Não havia se perdido.
Então, pagou a conta e partiu
Para algum lugar vazio e perdido.
Não teria mais notícias,
Não teria mais encontros.
E a vida sozinho seguiu.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Juízo

Deus bate o martelo:
o Universo explode,
nascemos (estrelas),
brilhamos (luminosas),
morremos (apagadas) 
por culpa do amor e da fé,
por causa do ódio e do dó.

O julgamento começa
e os culpados se dizem inocentes
e a inocência não existe.
Da acusação fugimos
e nela nos encontramos,
juízes e promotores que somos.

Rezamos e remamos
em marcha à ré,
réus que negamos.
Refazemos os pedidos,
remarcamos o horário
e lutamos contra o reinado.

Rumores.
Recuamos (ruidosos),
escondemo-nos (cavernosos),
fugimos (duvidosos),
silenciamos (pecaminosos).
Vítimas culpadas,
flageladas pelo pulsar do próprio coração.
Réus condenados, 
vítimas da própria ambição.